Fardo.

Me sinto como Sísifo carregando aquela maldita pedra até o fim dos tempos. Todo dia é a mesma coisa, todo dia há de ser vivido, todo o dia há de ser vivido - as 24 horas, os 350 dias, os 12 meses. Não se pode pular. Espiar uma semana à frente ou voltar uma semana atrás. Se alguém me dissesse que eu teria que viver em busca de não sei o que, não sei para que, e sem saber o que ia me acontecer, eu teria achado terrível, um pesadelo. Não precisa acontecer algo grandiosamente ruim em minha vida, apenas viver já é um fardo. Não me entenda mal, não quero soar ingrata, muito menos parecer uma pessoa mimada, como se não estivesse satisfeita. Mas e se eu simplesmente não quiser viver um dia? Não posso deixar de vivê-lo. Estar destinada à viver me apavora. Não saber o que me pode acontecer, me apavora. Viver me apavora. Mas se estou aqui quero ser útil de alguma forma, e esse é o fardo de ser humano, ter-que-fazer. 

De vez em quando minha mente me leva à acreditar que é tudo uma grande simulação, que na verdade é tudo um sonho, ou que nada realmente importa. Eu não acredito em nada disso de fato, eu só prefiro me perder em devaneios do que ter que viver. É assim que tento pular um dia ou outro, uma obrigação ou outra - pensando. Será que eu penso demais porque quero evitar viver? Então, consequentemente, eu escrevo para acabar logo com a vida? Sou tão ansiosa com tudo que no fim acho que só é pressa de acabar com essa obrigação de viver. Bom, talvez seja só uma questão de ingratidão mesmo. Acho que às vezes não quero viver só porque sou obrigada a fazer isso. Se viver não fosse obrigatório, será que eu escolheria viver? Será que de alguma forma eu escolhi e nem sei? Às vezes não quero viver só por cansaço mesmo, não preciso nem fazer alguma coisa - viver cansa. 

Escrevi várias vezes "não quero viver" porque é assim que me sinto, não poderia escrever "quero deixar de viver" porque de certa forma isso implica que quero morrer, e não quero morrer, tenho pavor da morte. A morte também implica que eu vivi, e não sinto que vivo direito, então não acho que conseguiria morrer direito também. 

Talvez isso tudo seja só balela - sempre é. Talvez isso tudo seja só porque estou procrastinando. Inclusive odeio procrastinar e odeio mais ainda quando tenho que parar de procrastinar, que no caso, é agora. 

“É preciso imaginar Sísifo feliz.”
- Albert Camus


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