Aneurisma.

Snif, snif, snif. Ouço os barulhos dela chorando, gritando, reclamando. Eu entendo esse comportamento, aquele também, esse nem tanto - mas deixo passar. Plim, plim, plim, é perturbador o barulhinho na minha cabeça de quando tenho certeza que ela teve uma recaída. XXXXXXXXXX, minha cabeça está sem sinal, que nem televisão, chiando incessantemente quando ela começa a falar desse assunto pela milésima vez. 

Eu tento entender, ter empatia, aguento dali e daqui, mas é tão difícil. Muitas vezes tenho raiva, outras tenho tanta pena. Ela nem imagina o quão doloroso é vê-la sentir dor, e passar por um momento tão difícil. 

O céu acorda limpinho, sem nenhuma nuvem, e quando menos espero vem aquele forte temporal. O barulho das sirenes começa a tocar na cidade inteira. Emergência, alerta. Tum tum, tum tum, tum t-tum, sinto meu coração errar as batidas de tão rápido. Ela está mal de novo. 

Não lembro da última vez que ela chegou em casa sorrindo, ou que acordou alegre. Se me sinto mal, imagino como ela deve se sentir. Além de tudo isso tem a culpa - a tristeza por estar triste, a ansiedade por estar ansiosa, a depressão por estar deprimida, o choro por estar chorando. A dor se agrava quando você percebe que está doendo. E você se culpa, mesmo que o machucado não esteja ali por que você quis. Afinal, quem - conscientemente - deseja sofrer? Eu não, muito menos ela.

Ansiosa, desatento e deprimida. É como estamos por aqui. No meio de tudo isso ainda tem ele, não quero escrever sobre - fico pior. Só imagino o tanto de coisas que ele pensa e sente, mas fica tudo guardado. Vai acumulando, entulhando, montando bloquinho por bloquinho. Que nem uma artéria que vai aos pouquinhos se enchendo, entupindo, até que: BUM. Explode. Hemorragia, sangue pra todo lado. Aneurisma psicológico, sentimental. Exatamente como ela fez. 

É tão difícil conviver com ela estando assim, e comigo sendo assim, e com ele, e com a situação, e... Cansaço extremo. Me pergunto porque somos tão somáticos. Somando somos três. Também tem aquele que contribuiu para tudo isso, mas ele fica entre colchetes e parêntesis, prefiro escondê-lo à sete chaves [(4)]. Mas "vai ficar tudo bem", "vai melhorar", "vamos seguir". Afinal temos que nos agarrar em algo para continuar. Nem sei mais o que significa a palavra "saudável", talvez nunca soube direito. Que palavra estranha.

Se tudo está assim, como deve estar dentro da cabeça de cada um? Da minha você pode ter alguma noção lendo essas tralhas - tralhas muito especiais pra mim -, da deles... Ninguém tem, nem eles. Não colocam para fora e tudo piora. Incrivelmente, eu devo ser a mais sã, a mais estável, devo estar "dentro da normalidade". 

Ao mesmo tempo, as coisas estão melhores. Mas não pra ela. É como se existissem dois mundos. Ela vive neles concomitantemente. Sente tanta dor que acaba preferindo a fantasia. Vejo que está no limite, me preocupo tanto com isso. Depois do limite só dá pra transbordar - não quero que derrame -. Tenho medo do que pode acontecer. Queria poder fazê-la se sentir menos sobrecarregada, eu tento, mas é tanta coisa. Assim eu também me sobrecarrego, de sentimentos e de coisas. Tantas coisas.

No ímpeto de nossos corpos nos sentimos tão sozinhos, dá vontade de desaparecer.

Sinto saudade do seu riso sincero, da sua alegria, da sua paz e principalmente, da sua plena vontade de viver - apenas por viver.

Eu te amo, mas infelizmente, nem sempre isso tem o poder de resolver as coisas.

Um tsunami inteiro
pra uma pessoa só.




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