Trêmula.

Tudo está carregado. Como uma arma cheia de munição. O coração não palpita, ele violentamente tenta sair do corpo. 

- Estou no meu ápice. 

Quando olho pra frente, te percebo. E dói. É necessário uma fração de segundos para que tudo transborde. Nesse momento, tudo incomoda. Até o mais singelo dos ventos dói o corpo. O quente é quente demais, o frio é frio demais. A boca seca, a mão gela, a pressão cai. Sinto como se fosse morrer. Como se fosse levitar. Só que não levito. A gravidade pesa como se eu fosse derreter. 

Eu ando, corro. Passo pelas pessoas à minha volta como se nada me abalasse. Chego a tempo, mas já estou atrasada. Tranco a porta e respiro. Então, desabo. Pareço não ter mais pele, músculos, veias, artérias ou sangue. Só sinto o esqueleto doer, e os órgãos implorarem para fugir. 

Não me sinto eu. Me sinto alienígena, aberração: troço, coisa. Tento - em vão - botar para fora. Tento sair de mim. Então percebo que já sai, e choro. E de repente volto a ser humana, sou gente. Me sinto estúpida, menina tola, ridícula. A lágrima escorre pelo meu rosto - quente, salgada - me consola. Ainda dói, mas consola. 

Só que sou tímida, não gosto de chorar. Timidez sentimental. Limpo o rosto, ainda tremendo, e continuo a viver. Sobrevivendo. Guardo tudo em minha caixinha de pandora, no fundo de mim: - dentro dos meus ossos, aqueles que tremem. 

Abro novamente quando estou sozinha, descarrego tudo. Ou acho que descarreguei. Quando na verdade, é uma caixa sem fundo. E me repito. De novo, e de novo, e de novo…

- A esperança está no fundo da caixa-sem-fundo. 





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