Saciedade.

Não me lembro da última vez que comi algo e me senti satisfeita. 

Antes das refeições sinto uma dor tão grande em meu estômago que dá a sensação de que ele está se deteriorando. Mesmo assim, quando vejo comida, não sinto vontade de pô-la na boca. Coloco porque devo. Mas como sem gosto, como por comer. Então, de súbito, no meio do ato inapetente, começo a me deliciar. De algum modo, a comida me cativa, e em fração de segundos, ela acaba. E o desânimo vem mais uma vez. Acompanhado de um sono - uma aversão ao aqui e ao agora - uma vontade absurda de apagar. 

Mas não há satisfação alguma: a dor no estômago volta. Dessa vez acompanhada de um enjoo, mas me seguro, não vomito. Ás vezes o vômito sai através de palavras. Ás vezes não sinto enjoo algum, nesses casos a dor é moderada, é só um incômodo. 

Ás vezes, sinto que os incômodos são piores do que grandes dores. São o limbo. Nem fortes, nem fracos. Eles só existem. Estão ali para que o sentimento de paz fique distante. E assim, eu sinto como se quisesse comer mais - mas não como, não quero, assim como não queria no início. Então bebo algo, e a sensação de fome se esvai, mas não sacia. Aí eu durmo, sonho, e esqueço. Até que tudo se repita novamente na próxima refeição. 

Ingrata, apática, esfomeada, preguiçosa. 

O texto não se trata de transtornos alimentares.



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