Buraco.

Ontem me angustiei por não ser minúscula. Vi um pequeno buraco na parede e desejei imensamente adentrá-lo. Gostaria de saber o que havia lá dentro, parece ser tão divertido quando formigas entram em lugares assim. Imaginei ser uma. Deve ser satisfatório poder adentrar onde quiser, ter tamanho desprezível e ser passada despercebida. Tive inveja de uma formiga. 

Pensando bem, se fosse minúscula, talvez fosse querer ser grande. Iria querer ser notada, chamar atenção. Iria ficar entediada de minhas pequenas cavernas, e teria raiva por ser impotente. Mas já tenho, e nem sou minúscula. 

Acho que o que nos torna humanos é o poder de escolha, de descoberta. Não nascemos com um propósito pré-definido, como os outros animais. Nosso único propósito é viver, é ser. E ainda assim, posso parar de ser, se assim quiser. A autossuficiência machuca, a dependência também. Talvez por isso gostaria de ser vazia, mas se fosse, haveria de ser real. Seria tão vazia que não sentiria a mínima vontade de reclamar do que me fosse imposto. Talvez assim fosse feliz, porque nunca teria experienciado nada. Provavelmente isso nem importaria, já que meu pensamento seria extinguido.

Talvez essa fosse a única solução para minha vida - o vazio. Assim estaria presa sem saber, e nunca argumentaria contra isso. Nem desejaria ser grande ou pequena, nem pensaria, nem escreveria e por consequência, não seria. 



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